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ENTREVISTAS

Entrevista Cida dos Reis

Em defesa da democracia: a luta contra o racismo no centro da política

Cida dos Reis é cineasta, pesquisadora das manifestações culturais afro-brasileiras. Integra o Coletivo Coisa de Preto, do setor audiovisual, que aborda as situações vivenciadas pela população afro-brasileira residente nas periferias, vilas e favelas e os desafios do racismo institucional.

  1. As lutas antirracista e antifascista e os movimentos pró-democracia no Brasil

As manifestações que ocupam as ruas nos países da Europa e nos EUA provocaram uma série de cobranças para os setores ligados à luta antirracista aqui no Brasil. E é interessante observar que estas mesmas cobranças partem sempre do pressuposto de que os negros brasileiros são menos combativos, mais submissos, e o mais absurdo: que a maioria dos negros brasileiros não se reconhecem como negros.

Como se isso fosse possível! Na hipótese de dúvida é só perguntar ao guarda da esquina ou o porteiro do residencial de luxo em qualquer parte do Brasil. Os movimentos fascistas possuem como principal característica o racismo. São, também, machistas, homofóbicos, elitistas, supremacistas, autoritários, extremamente violentos, mas são sobretudo racistas!

A luta antirracista no Brasil é uma frente permanente porque a nossa sociedade se estrutura, deste a chegada dos primeiros europeus brancos, como uma cultura absurdamente preconceituosa e racista. Uma cultura que sempre alimentou o ódio e o desprezo ao diferente, à diversidade. No momento atual as frentes de lutas – antirracista, antifascistas e pró-democracia – podem e devem se encontrar e somar esforços mútuos, porque é o pensamento racista que retroalimenta todas as demais patologias do fascismo. O antifascista e pró democrata precisa ser antes de tudo antirracista. E não basta ser no discurso e/ou na teoria. É preciso sê-lo na prática, no cotidiano, num esforço constante e diário. O Racismo é uma doença e precisamos nos tratar!

  1. A participação social em meio à crise sanitária, política e econômica do país

A ação coletiva dos setores antirracistas de nossa sociedade é crucial para enfrentar a violência mantida pelo Estado contra a população negra brasileira. E esta ação organizada se mantém vigilante para denunciar, denunciar e denunciar essa violência, naturalizada, que é só mais uma das facetas do racismo institucional existente nas estruturas governamentais, absolutamente referendada pelas instituições públicas e privadas do país.

As cenas da morte do negro americano imobilizado, como um animal, por um policial branco que o estrangulava com o seu joelho, ao mesmo tempo em que mantinha suas mãos no bolso e um sorriso cínico na cara, é a imagem espelhada do racismo estrutural brasileiro que oprime, humilha, sufoca e mata com os membros inferiores, ao mesmo tempo em que com os membros superiores abraça cordialmente, elogia o nosso “lugar” e sorri com ar de paisagem. Por estas razões, as organizações antirracistas não admitem mais nenhum argumento, nenhuma justificativa, nenhuma desculpa que legitime mais mortes da população negra.

A sociedade brasileira precisa romper com o pacto doentio de aceitar, com naturalidade, que parcela significativa desta mesma sociedade tenha menos direitos e seja considerada cidadãs e cidadãos de 2ª, 3ª, 5ª ou 17ª categoria. Ou esta mesma sociedade, com seus diferentes e inúmeros setores, enfrenta junto o desafio de pôr fim ao racismo estrutural e institucional presente em nossa cultura, ou vamos continuar atravessando crises após crises sanitárias, políticas e econômicas.

  1. Pautas, ações e desdobramentos dos protestos

Para nós, dos setores antirracistas, a pauta principal é a luta para conter a violência do Estado que vem exterminando a população negra. A preocupação seguinte é a de impedir retrocessos nas poucas conquistas de enfrentamento do racismo institucional – promulgação e implementação da Lei 10.739; Cotas e bolsas de estudos nas universidades públicas; Fies com o Fundo Garantidor nas universidades particulares; Programas de financiamento de moradias “decentes” para famílias chefiadas pelas Mulheres;  Manutenção e fortalecimento dos Institutos Federais Regionais; Programas de transferência de rendas; Fomentos culturais com cotas para mulheres e população afro-brasileira, sem prejuízo a outras iniciativas. Importante manter as mobilizações online, para garantir a segurança da população, com reforço no campo da formação cidadã, até ser possível voltarmos a ocupar as praças e ruas.

 

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