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Apresentação do Projeto Nova Cartografia Social em português do Brasil

cartografia amazônia 1

Projeto reúne conhecimento sobre o processo de ocupação da região e se constitui como instrumento para o fortalecimento dos movimentos sociais

O Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia (PNCSA) tem como objetivo dar ensejo à auto-cartografia dos povos e comunidades tradicionais na Amazônia. Com o material produzido, tem-se não apenas um maior conhecimento sobre o processo de ocupação dessa região, mas sobretudo uma maior ênfase e um novo instrumento para o fortalecimento dos movimentos sociais que nela existem. Tais movimentos sociais consistem em manifestações de identidades coletivas, referidas a situações sociais peculiares e territorializadas. Estas territorialidades específicas, construídas socialmente pelos diversos agentes sociais, é que suportam as identidades coletivas objetivadas em movimentos sociais. A força deste processo de territorialização diferenciada constitui o objeto deste projeto. A cartografia se mostra como um elemento de combate. A sua produção é um dos momentos possíveis para a auto-afirmação social. É nesse sentido que o PNCSA busca materializar a manifestação da auto-cartografia dos povos e comunidades nos fascículos que publica, que não só pretendem fortalecer os movimentos, mas o fazem mediante a transparência de suas expressões culturais diversas.

Cada fascículo é resultado de uma relação social específica entre um povo ou comunidade tradicional e a equipe de pesquisadores. É o movimento social que busca o PNSCA para realizar a cartografia. A partir desse interesse manifesto, é realizada uma oficina de mapas com a participação de cerca de 30 agentes sociais e os pesquisadores membros do Projeto. Nela, os pesquisadores ensinam técnicas de GPS e de mapeamento, além de conversar com os agentes e coletar depoimentos sobre a história social e problemas da comunidade. Os agentes sociais produzem croquis, mapeando sua região e indicando quais os elementos relevantes para a sua composição. Em um segundo momento, sem a presença dos pesquisadores, os agentes sociais marcam, com GPS, os pontos do que consideram significativo de seu território. Na seqüência, o PNSCA recolhe as informações das marcações de ponto e as georeferencia na base cartográfica, inserindo as ilustrações produzidas nos croquis. Essas ilustrações compreendem desenhos, esboços e reproduções de símbolos e objetos (remos, casas, embarcações, instrumentos de trabalho, animais, plantas, etc.) que são transformados, a partir do trabalho da equipe de pesquisadores, em ícones para compor as legendas dos mapas. Simultaneamente, transcreve-se excertos de depoimentos e seleciona-se os que comporão o fascículo.

Com o mapa concluído e os depoimentos selecionados, monta-se um protótipo de fascículo, que é remetido à comunidade. Ela então faz as correções que deseja, procede à leitura do mapa-piloto e envia-o de volta ao PNCSA. A partir daí toma-se as providências concernentes à publicação. São publicadas mil cópias de cada fascículo. Um menor número de cópias fica em mãos do PNCSA, que guarda alguns exemplares e distribui os restantes para pesquisadores, núcleos de pesquisa, universidades e órgãos estatais tais como Ministério Público Federal e Procuradoria da República. A maior parte dos exemplares fica de posse do movimento social, e por ele é utilizada como quiser, muitas vezes como parte integrante de sua estratégia de auto-afirmação social e de resolução de seus problemas O Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia produziu um total de setenta fascículos, organizados em seis séries, referentes ao trabalho das três primeiras etapas de pesquisa, entre março de 2005 e janeiro de 2009. Produziu também 13 livros e um mapa (síntese referente à área ecológica dos babaçuais).

A tiragem total dos fascículos corresponde a 85.000 exemplares, a dos livros (desde 2005), a 13.000 exemplares, e, a dos mapas, a 7.400 exemplares.

Este tipo de cartografia social vem se consolidando desde as experiências de mapeamento social realizadas na área correspondente ao “Programa Grande Carajás”, em 1991-93, e na região ecológica de babaçuais, em 2005. O primeiro mapeamento resultou no livro-mapa intitulado Guerra dos Mapas (1993), e, o segundo, no Guerra Ecológica nos Babaçuais(2005).

Em 2005 foram publicados os seis primeiros fascículos da série 1, chamada Movimentos Sociais, Identidades Coletivas e Conflitos, com a proeminência das Quebradeiras de Coco Babaçu dos Estados do Piauí, Maranhão e Pará. No final de 2005 as oficinas de mapas das Comunidades Quilombolas dos Estados do Pará, Maranhão, e Amazonas passam a integrar a mesma série, com seus fascículos publicados entre 2006 e 2007. Ainda na série 1 consta os trabalhos relativos a artesãos e artesãs, ribeirinhos, ribeirinhas, piaçabeiros e peconheiros dos Estados do Amazonas e Pará.

Em 2006 o Projeto expandiu os trabalhos de mapeamento social para fora da Amazônia com a série 2, intitulada Projeto Nova Cartografia Social dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil. Entre os anos de 2006 e 2007 foram publicados 10 fascículos, focalizando a diversidade social, a saber: Povos dos Faxinais, Fundos de Pasto, Quilombolas, Pescadores, Ribeirinhos, Cipozeiros e Povoado Pantaneiro, nos Estados do Paraná, Bahia, Pará, Amazonas, Roraima, Pernambuco, Espírito Santo, Santa Catarina e Mato Grosso.

A série 3, Conflitos nas Cidades da Amazônia, começou no ano de 2006, e conta com dez trabalhos realizados na cidade de Belém (Indígenas, Homossexuais, Afro-religiosos, Negras e Negros, Catadores, Pessoas com deficiências, Feirantes e Ribeirinhos) e nove na cidade de Manaus (Bairro Campo Sales, Jesus Me Deu, Comunidade Parque Riachuelo I, Parque Riachuelo II, Parque São Pedro, São Benedito da Praça 14 de Janeiro, Mulheres Indígenas e Artesãs do Alto Rio Negro, Comunidade Indígena Sateré-Mawé, Beco dos Pretos – Morro da Liberdade). Há ainda fascículos produzidos nas cidades de Salinas (PA), Rio Preto da Eva (AM), Manacapuru (AM) e Marabá (PA). Em 2008 foram criadas três novas séries, as de número 4, 5 e 6. A série 4 se chama Crianças e adolescentes em Comunidades Tradicionais da Amazônia e conta com dois fascículos, “Crianças e Adolescente Ribeirinhos e Quilombolas de Abaetetuba” e “Jovens de Comunidade Tradicionais do Baixo Tocantins: Cametá, Limoeiro do Ajuru, Igarapé Miri, Mocajuba”. A série 5, intitulada Faxinalenses no sul do Brasil possui cinco publicações: “Faxinalenses: Fé, Conhecimentos Tradicionais e Práticas de Cura”, “Faxinalenses no setor Centro do Paraná”, “Faxinalenses no setor Sul do Paraná”, “Faxinalenses no setor Metropolitano de Curitiba” e “Faxinalenses do Núcleo Metropolitano Sul de Curitiba”. A sexta e última série se chama Quilombolas do Sul do Brasil, possui três publicações: “Comunidade Invernada Paiol de Telga Fundão”, “Comunidade Quilombola João Surá e Praia do Peixe” e “Comunidade Quilombola do Rocio: Adelaide Maria Trindade Batista, Castorina maria da Conceição e Tobias Ferreira”.

O mapa-guia Áreas mapeadas a partir das oficinas de mapas do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia mostra a espacialização das áreas mapeadas pelos povos e comunidades tradicionais participantes das oficinas de mapas e que estão publicadas nos fascículos das diferentes séries. São também apresentados no mapa alguns detalhes sobre os fascículos das séries 1 e 2 do Projeto.

A equipe de colaboradores do PNCSA é composta por 19 doutores (em Antropologia, Direito, Geografia, Biologia, Sociologia e História), 14 doutorandos, 22 mestres, 16 mestrandos, 7 especialistas 12 bacharéis e 10 bacharelandos. Participaram das oficinas de mapas mais de 1.800 agentes sociais entre março de 2005 e janeiro de 2009, mapeando seus respectivos movimentos sociais e reafirmando suas territorialidades específicas.

Fonte: http://novacartografiasocial.com/

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