Luiz Ferreira | Divulgação

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Dia Internacional da Juventude destaca engajamento em ação global

O Dia Internacional da Juventude (12 de agosto) foi criado em 1999 pela Assembleia Geral das Nações Unidas. Em 2020, com o tema “Engajamento dos jovens pela ação global”, a data reforça o protagonismo juvenil em mecanismos políticos formais, para aumentar a imparcialidade dos processos políticos, reduzir déficits democráticos e contribuir para políticas sustentáveis. Para isso, devem ser incentivados os fluxos de engajamento que incluem os níveis local / comunitário; nacional (formulação de leis, políticas e sua implementação) e global. 

Com a proximidade da realização da Agenda 2030, o protagonismo juvenil deve ainda integrar o sistema internacional no enfrentamento dos conflitos contemporâneos e emergências humanitárias, frente aos desafios globais, como as mudanças climáticas e o surto de covid-19 que acentua as desigualdades sociais.

A pesquisadora do ODC, arquiteta e urbanista Ana Paula do Val, observa distintas realidades, conforme as classes sociais a que os jovens pertencem, o que torna moradores de periferias vulneráveis às formas de opressão do racismo estrutural e violência do Estado. “A falta de acesso a serviços públicos de saneamento básico, saúde, educação, cultura, mobilidade e trabalho contribuem para o agravamento destas assimetrias”, afirma, lembrando, em contrapartida, as ações culturais de resistência, protagonizadas por jovens que afirmam identidades e reivindicam a condição de sujeitos de direitos.

Ana Paula do Val, pesquisadora do ODC: “Qualquer território tem o seu tecido sociocultural, onde protagonistas disputam narrativas e representações e criam referências culturais a partir de recursos disponíveis”.

Para a pesquisadora, a cultura mobiliza os jovens e potencializa ações afirmativas, ao aproximar visões de mundo, compartilhar gostos e sistemas de valores. “Qualquer território tem o seu tecido sociocultural, onde protagonistas disputam narrativas e representações e criam referências culturais a partir de recursos disponíveis”.

A atuação do grafiteiro e empreendedor social Fred Negro na comunidade do Alto Vera Cruz, onde nasceu e foi criado, mostra a força da cultura juvenil e periférica. “A mais legítima expressão e potente força destes jovens”, como expressa o artista e presidente Nacional da Nação Hip Hop Brasil. “Dar à luz e gerar oportunidades nos mostra que estas são as ‘armas’ poderosas de prevenção a situações de extremo risco ao desenvolvimento local. Ignorar isso é abrir espaço para as diversos formas de violência contra estas juventudes”, defende o designer social e arte educador, com especialização em Negócios Sociais.

Ele considera que a arte urbana, como o hip-hop e, em especial, o graffiti, realizam uma “ação de demarcação”. “As cores, formas e movimento fazem isso, comigo foi assim. E vejo que com outras pessoas não é diferente: o fato de intervir em um ambiente que se encontra degradado e às vezes despercebido, que recebe uma intervenção e se torna outro e, ao se tornar outro, gera uma apropriação local e de reconhecimento de forma imensurável”, afirma, apontando como exemplo o projeto Amor pelo Alto Vera Cruz, idealizado pelo artista e que produziu quatro murais/painéis de graffiti, localizados em pontos estratégicos.

Fred Negro, artista e empreendedor social: “Dar à luz e gerar oportunidades nos mostra que estas são as ‘armas’ poderosas de prevenção a situações de extremo risco ao desenvolvimento local. Ignorar isso é abrir espaço para as diversos formas de violência contra estas juventudes”.

Fred Negro destaca ainda, como desafio, frente às desigualdades sociais, a efetivação do Estatuto da Juventude, no sentido de “potencializar as periferias, interiores e criar oportunidades em que os jovens possam se fazer atuantes e continuem sonhando com o amanhã”.

A gerente executiva do Centro de Referência da Juventude (CRJ), da Prefeitura de Belo Horizonte, Samira Ávila, relaciona a participação no território à cultura como “meio lúdico que conecta ao direito ao lazer, espaços públicos, conhecimento sensível e experiências coletivas”. O CRJ atua com um Comitê Gestor composto por representantes do poder público e jovens, de forma paritária, o que, na sua visão, promove o protagonismo juvenil em ações transformadoras, fruto da relação de pertencimento ao espaço.

Samira enfatiza que as políticas públicas devem promover o desenvolvimento integral do jovem, por meio da educação, trabalho, cultura, arte, tecnologias da informação e comunicação, para pessoas com idade entre 15 e 29 anos, no atendimento e atenção prioritária aos mais vulnerabilizados, com foco nas juventudes negra, pobre, LGBT e mulheres. “Os recursos públicos da cultura historicamente são destinados de forma desproporcional para a região Centro-Sul da cidade e isso deve ser corrigido. Temos visto esforços e pressão para que isso aconteça. O Conselho Municipal de Cultura é uma instância importante neste sentido”, reforça a gerente do CRJ.

Samira Ávila, gerente do CRJ, relaciona a participação no território à cultura como “meio lúdico que conecta ao direito ao lazer, espaços públicos, conhecimento sensível e experiências coletivas”.

Como “dispositivo de expressão e reivindicação destes protagonistas”, as políticas culturais devem permitir o acesso aos recursos públicos por jovens de diversas classes sociais e étnicas, enfatiza a pesquisadora Ana Paula do Val, lembrando o crescimento, em países em desenvolvimento, das pautas relacionadas aos direitos humanos e identidades.

Entretanto, em meio à pandemia de covid-19, a desigualdade social ampliou-se, especificamente, com a suspensão das aulas presenciais, agravou-se a desigualdade digital. “Os jovens da rede pública de ensino estão com as aulas suspensas, enquanto os da rede privada continuam com o acesso à escola em formato digital. Qual o impacto deste desequilíbrio? Quem terá (ainda) mais vantagem para concorrer às oportunidades de trabalho e educação?”, questiona  a gerente do CRJ, ao enfatizar: “Se para o ‘novo normal’, as questões sanitárias e de prevenção deverão ser centrais para que os jovens acessem espaços educativos, de cultura e lazer, com segurança, como será para o jovem que possui uma habitação precária que depende do transporte público?”

 

“Falar de acesso à internet e ficar em casa é privilégio. E as juventudes são as mais prejudicadas, pois se já era difícil incentivá-los ao cumprir a jornada indo à escola, imagine agora que precisam ter acessibilidade virtual para participar. A adesão, como relatado por professores e educadores, é baixíssima. Nem por uma questão de interesse, mas por falta de acessibilidade mesmo”, conclui Fred Negro que lidera, com a rede de proteção social nas comunidades Alto Vera Cruz e Completo Pedreira, a campanha #VamosJuntoscontraaCovid19, para minimizar os impactos sociais causados pela pandemia nestes territórios.

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