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No papel, de mão em mão

Sobre rua e sexualidade, “Marimbondo” e “A imprensa gay no Brasil” circulam por aí

Minas Gerais tem 853 municípios. Cidades grandes, cidades pequenas, cidades pouco conhecidas e cidades que recebem visitantes do mundo inteiro. Cada uma delas com suas histórias, hábitos e costumes. Todas compondo regiões que se caracterizam seja por suas festas tradicionais, como a festa do Milho em Patos de Minas ou a Folias de Reis, nas cidades da região Sul; seja pelo artesanato, como as cerâmicas do Vale do Jequitinhonha; pelos patrimônios históricos da região Central, que incluem as cidades de Tiradentes e Ouro Preto; ou pela culinária, como o queijo do Serro e da Serra da Canastra.

Entre tanta diversidade, há algo que, além de ser comum em todas as regiões do Estado, também leva um pouco de Minas Gerais para o mundo inteiro: a literatura. Sejam árcades, modernistas ou contemporâneos… Escritores mineiros são lidos e estudados em qualquer lugar. Foi assim e, se depender dos mineiros, vai continuar sendo. O estado que lançou nomes como Cláudio Manuel da Costa, Carlos Drummond de Andrade, Humberto Werneck, Fernando Sabino, Ruy Castro, Ziraldo, Zuenir Ventura, entre outros, recebeu este mês duas publicações que pautam a diversidade cultural, o livro “A imprensa gay no Brasil” e a revista “Marimbondo”.

A primeira foi lançada na livraria do Ouvidor, no Bairro Funcionários, em Belo Horizonte; a segunda, no Espaço Espanca, no Centro da capital. Uma é editada pela PubliFolha; a outra é um projeto financiado pela Lei Estadual de Incentivo à Cultura. Ambas vêm para alargar ainda mais os fenômenos, a preocupação, as referências e a voz em prol do ativismo através da palavra escrita.

 

Foto: Giselle Lucena

Tomar a palavra

Flávia Péret, jornalista e autora do livro “A imprensa Gay no Brasil”, defende que é possível fazer comunicação e mobilizar as pessoas e os grupos – principalmente aqueles que têm pouca ou nenhuma visibilidade na mídia – para que eles se articulem e falem sobre si mesmos, sobre seus problemas, suas questões. “Considero extremamente político o ato de inverter o jogo e, literalmente, tomar a palavra. Ser sujeito da enunciação e não apenas objeto, como acontece tradicionalmente no jornalismo”, explica.

Flávia, que pesquisa a questão das minorias sexuais e identidades, foi contemplada no programa “Folha Memória”, da Folha de São Paulo, um programa que incentiva pesquisadores e jornalistas a investigar a história da imprensa brasileira. Com isso, ela produziu o livro, estimulada pelos estudos que realizou sobre a representação dos travestis na literatura brasileira.

E, se pensar em diversidade cultural é pensar, também, em diversidade sexual, Péret defende que precisamos considerar como as pessoas que não possuem uma sexualidade hegemônica colocam em discussão suas questões, lutam por seus direitos e por suas particularidades. “É importante pensar a diversidade em termos mais amplos e plurais. Quando falamos de imprensa e direitos gays estamos falando de direitos humanos. O Brasil, assim como vários outros países, precisa avançar nisso. Apesar de algumas conquistas nos últimos anos, como a decisão do STF que legalizou a união homoafetiva, ainda vivemos num país extremamente homofóbico e machista”, afirma. “A imprensa gay no Brasil” também será lançado em São Paulo, no Museu de Arte Moderna. O livro está à venda no site da PubliFolha, por R$ 19,90.

 

Foto: Netun Lima

Modos de usar

Praia da Estação, Duelo de MC’s, blocos de carnaval, intervenções artísticas dos grupos Poro e Obscena, e o projeto Muros: Territórios Compartilhados são alguns dos assuntos que entraram em pauta na primeira edição da revista “Marimbondo”, publicação de arte e cultura que tem como proposta um tratamento aprofundado dos acontecimentos, de forma diferente da agenda e da crítica especializada. “A ocupação urbana, seja por meio da arte ou da cultura, não é algo novo para a capital mineira, mas entendemos que seria possível acrescentar algo ao discutir essa ocupação de forma rizomática e menos pontual”, explica Júlia Moysés, uma das responsáveis pela publicação.

Na matéria “Muros: modos de usar”, sobre o projeto “Muros: territórios compartilhados”, a jornalista Raissa Pena descreve que “as grandes cidades têm se tornado cenário e inspiração freqüente para as mais variadas expressões artísticas”. Com isso, são cada vez mais diversas as propostas, as linguagens e os espaços explorados. Na entrevista “Devemos é lutar para garantir que exista o conflito”, a professora Regina Helena Alves lembra que “todos querem estar na praça, por exemplo, mas de modos diferentes”. No que se refere à política, a professora Ana Clara Torres, na entrevista “Nós temos hoje uma espécie de contenção do imaginário político”, defende que “há uma ruptura das distâncias entre arte e política, entre arte e experiência urbana e entre arte e percepção dos direitos”.

A proposta da equipe é que a revista seja semestral  e a previsão é que o próximo tema abordado será “equipamentos culturais”. “Falamos da rua, mas como estão os espaços fechados da cidade? Pode ser um caminho”, conta Júlia Moysés. A revista não tem uma equipe fixa de jornalistas e fotógrafos. Eles serão escolhidos por edição. Por isso, quem quiser participar pode mandar um e-mail para marimbondo@canalc.art.br com o portfólio. A publicação “Marimbondo” integra o Programa Cultural Conexão Vivo. Com tiragem de 3.000 exemplares distribuídos gratuitamente, conta, também, com uma versão em PDF.

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