Ricardo Viana

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Mães no plural: luta e afeto

Para compreender a condição materna hoje, é importante reconhecer as conquistas das mulheres e os desafios enfrentados por elas, considerando-se que a maternidade não equivale ao processo de reprodução biológica, mas decorre de uma construção sociocultural, como explica a doutora em antropologia, Ángeles Sánchez.

O valor da liberdade, fruto da ação dos movimentos feministas contra as formas históricas de opressão masculina, modificou o comportamento associado à abnegação e perfeição, típicas da imagem idealizada da figura materna. A decisão de ter filhos exemplifica transformações significativas. A opção tem prevalecido para boa parte das mulheres que pode adiar a gravidez, priorizando a estabilidade financeira, o reconhecimento na carreira profissional e o empoderamento nas relações afetivas.

Segundo dados do IBGE, das 50 milhões de famílias residentes em domicílios particulares em 2010, total 37,3% tinha a mulher como responsável. O papel da mãe se transformou também com os pais na frente de ação antes atribuída a elas, ou casais do mesmo sexo que adotam filhos e dividem a tarefa de ser pai e mãe ao mesmo tempo.

No entanto, permanece a dura realidade determinada pela desigualdade social. Em 2015, a ONG pela infância Save the Children divulgou o 16º relatório anual do Estado das Mães do Mundo que analisa as desigualdades na saúde entre algumas das principais cidades do mundo. Entre 179 países, os resultados quanto ao bem-estar de mães e crianças posiciona a Noruega como o melhor país para ser mãe, seguida por Finlândia e Islândia, e considera a Somália o pior país, mediante fatores como o risco de uma mulher morrer em consequência da gravidez ou parto.

Condições adversas à qualidade de vida das mães, acentuadas durante a pandemia do covid-19. De acordo com a Onu Mulheres, em média, elas já realizavam três vezes mais trabalhos não remunerados do que os homens em casa. Agora, precisam dar conta da assistência à infância e a pessoas idosas, trabalho, educação escolar e atividade doméstica. A saúde e a segurança estão comprometidas pela dificuldade de acesso a serviços voltados nesse período a necessidades médicas essenciais. O isolamento as aproxima ainda mais das graves estatísticas da violência doméstica.

A partir de sua própria experiência como mãe, a colunista do jornal Folha de São Paulo, Cristiane Garcia, testemunha os efeitos da rotina acentuada e faz um apelo por um mundo melhor depois dela. “É preciso repensar totalmente a sociedade depois que esta pandemia passar. É preciso repensar as responsabilidades que nos são impostas e a rotina exaustiva a que, muitas vezes, nós mulheres somos submetidas”.

A doutora em Psicologia, Maria Clara Jost, acredita no potencial de mudança capaz de transformar a convivência cotidiana. “Talvez, quem sabe o isolamento social não possa significar, verdadeiramente, aproximação emocional? Quem sabe não seremos agora chamados a trocar muita quantidade por uma dose maior de qualidade?”, questiona Maria Clara, para quem a impossibilidade de estar perto pode levar à percepção da importância insubstituível da presença.

O segundo domingo de maio é dedicado às comemorações do Dia das Mães no Brasil e, em 2020, com um grande desafio: reinventar as formas de estar junto, em resposta à realidade do distanciamento social provocada pela pandemia do covid-19. No momento se torna urgente proteger e o zelo é dobrado quando as mães integram o chamado grupo de risco – mulheres com idade de mais de 60 anos ou portadoras de doenças crônicas.

Nessas circunstâncias, como superar a distância e demonstrar afeto? Ao aproximar as pessoas, a tecnologia digital tem se mostrado forte aliada para expressar sentimentos, como o respeito e a gratidão, assim como para presentear as mães, por meio das compras realizadas pela internet. O ritual da oferta dos presentes também mudou, vivenciado muitas vezes nas portas das casas, onde os olhares acenam, de longe, ao encontro da presença materna, demonstrando o carinho de sempre, agora de uma forma diferente.

O uso dos serviços delivery, os encontros virtuais, a oferta de cursos, lives e outros produtos online, e mesmo a infalível receita do “faça você mesmo” são alternativas para uma comemoração segura e amorosa.

Mas, dia das mães é, principalmente, dia de homenagear as mulheres guerreiras que  sabem fazer convergir o amor com o protagonismo.

Releia a matéria sobre as Mães pela Diversidade publicada em março aqui.

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